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blogue editado por José Marques Mendes e Luís Luz

12 de fevereiro de 2011

As pessoas roubam

As pessoas roubam. Dizem que sim. Se é verdade ou não, não sei mas, que se diz com muita naturalidade é um facto.
Há alguns dias, conversando com um amigo sobre a possibilidade de investirmos num restaurante na zona do Porto, referia-me que gostava da ideia mas que não tinha espírito para isso.
-Então? Admirei-me.
Dizia que iria passar por muito stress e preocupação porque os colaboradores o iriam roubar, ou seja, as pessoas no atendimento iriam desviar receitas ou originar custos. Por exemplo, não registar vendas de clientes ou consumir bebidas e comidas sem conhecimento seu.
As pessoas roubam. Dizem que sim. Eu quero acreditar que não. Não sendo ingénuo, quero acreditar que não.
Até porque, a forma como exerço a gestão nas empresas não contempla esse pressuposto. Nem sequer penso nisso. Por muitas razões entre elas as seguintes:
1. como não quero para os outros o que não queria para mim, não vou desconfiar gratuitamente dos outros.
2. entendo a liderança como uma aposta efectiva nas pessoas e no seu potencial. Aposto a top. Qualquer coisa que belisque isso já não é liderar. No limite é gerir e… de forma débil.
3. nas organizações em que me envolvo pressuponho crescimento, quer geograficamente quer em tempo de funcionamento (abertura ao cliente, por exemplo). Como responsável, se quiser controlar tudo directamente, sem delegar poder de decisão e autonomia, não vou longe. Vou morrer na praia.
4. sei que as pessoas são sérias. Nasceram sérias, cresceram sérias e, se não existe nenhuma patologia então qualquer desvio a essa seriedade terá uma explicação. Não justifica o comportamento desviante mas é um impulsionador. Aí entra a minha responsabilidade. Eliminar, na organização, os impulsionadores de comportamentos desviantes.
Existem coisas que impulsionam as pessoas a fugirem da sua melhor conduta e que vale a pena reflectir:
1. por exemplo, no atendimento ao cliente. Grande momento da verdade. Grande responsabilidade da venda. Os responsáveis das empresas querem que os seus colaboradores, na linha da frente, sejam exemplares na venda. Pois bem, para este cargo, as empresas pagam salário mínimo ou algo acima disso como 500 ou 600€. Se é na linha da frente que se fazem as vendas, se fideliza e se criam emoções, não se deve considerar o atendimento como porta de entrada, isto é, para estagiários e principiantes. Há remunerações que não valorizam o impacto da função e da pessoa.
2. as chefias de topo ou patrões, gostam de controlar tudo e todos de forma intensa. Não são todos mas são muitos. Esquecem-se contudo que, quem é controlado exageradamente não se sente responsável. Aliás, desperta nas pessoas o engenho para “pular a cerca”. Reparemos em nós na estrada. Estamos sempre fora de limites. Na auto-estrada então.... Na educação dos filhos, sendo pais super-protectores, eles vão querer provar a si mesmos que conseguem fugir a esse controlo.
3. muitas, mas muitas pessoas, só não têm negócios ou actividades por falta de recursos. São tão ou mais responsáveis e sérios que muita gente no topo das empresas. Imaginemos a frustração dessas pessoas sem um cargo que lhe permita investir os seus valores. Não os valores materiais mas os outros como, seriedade, responsabilidade, transparência, disponibilidade, etc, etc. Os valores humanos.

Se queremos as pessoas com um determinado comportamento, pensemos e actuemos com essas pessoas como tal. Sonhemos com isso e o comportamento acontece.

Afinal somos todos pessoas. 
José Marques Mendes

1 comentário:

streble disse...

inspira-me a ideia de um restaurante...