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blogue editado por José Marques Mendes e Luís Luz

20 de setembro de 2015

Há quem queira | Rodrigo Ferrão

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar


*Jorge Palma


Hoje, dia 12 de Setembro, vi uma reportagem na SIC Notícias sobre jovens que saíram de Portugal para ter uma oportunidade. A peça percorria a vida de várias pessoas, uma espécie de viagem pelas suas ambições e sonhos. Mas também os porquês, as comunicações à distância e o sentimento guardado na significância da palavra saudade.


Havia alguma raiva escondida nas emoções contidas dos entrevistados. Queixaram-se da falta de oportunidades, lamentaram o facto do Estado português investir em quadros que depois não utiliza. Mas há ali um argumento que me prendeu ao sofá e me fez reflectir na minha vida profissional (sempre passada em Portugal), na experiência que levo e retenho ao percorrer 6 equipas diferentes nestes últimos 8 anos. E faz muito sentido esta observação. Diz, a certa altura, um entrevistado, qualquer coisa assim: “Aqui, se comunicamos a nossa vontade de sair, o nosso chefe (se gostar de nós) vai tentar dar-nos mais para nos segurar. Em Portugal diriam que têm muitos currículos em cima da mesa e que há quem queira o nosso lugar.”


Não vou tentar especular se somos um povo pouco ambicioso dentro de portas, se vivemos agarrados à fixação dos lucros ou se não temos dinheiro para sequer mandar cantar um cego. O que pretendo pensar é na vida profissional que levei, sobretudo como enquadrar as ambições e futuro nesta visão tão pessimista do “quem queira”, expressão que já escutei tantas vezes durante o meu percurso.


Apesar de elogiarem a nossa criatividade, a nossa capacidade para trazer soluções para a mesa, o nosso sacrifício e entrega, a verdade é que a carreira dos jovens que se destacam dos demais, fica assim num pântano à espera que algo aconteça. Mas não se iludam, os anos passam e continua o renovar de elogios. Talvez com a subtileza de serem diferentes a cada ano, para não parecer mal.


Tudo isto é muito bonito até ao dia em que o verniz estala. E lá sai um “há quem queira”. E isso, infelizmente, é verdade. Porque há quem, no meio da precariedade, receba menos ou tenha a sua vida mergulhada em horários impraticáveis. O problema é que a repetição desta ideia mina a confiança de qualquer pessoa minimamente ambiciosa.


Num país de salários baixíssimos, de estágios não remunerados, da não existência de pagamento de qualquer hora extra, de uma grande franja de jovens com frequência superior que nem mil euristas são; não se entende como é que há superiores hierárquicos (e até colegas) que usam e abusam desta verdade absoluta.


Isto ao mesmo tempo que se continua a reservar a táctica do elogio gratuito, porque essa parece ser a forma mais fácil e evidente de ir mantendo os funcionários entretidos. Premiar os melhores pode parecer muito mau aos olhos dos outros. E assim se passam anos, e assim as empresas discutem egos e sensibilidades… em vez de perceber como podem crescer em equipas sólidas, onde cada um sabe exactamente o que fazer para a empresa evoluir com os funcionários que tem.


Se os portugueses dão cartas lá fora, não é de pensar um pouco? O que é que as empresas fazem para premiar os seus melhores talentos? Num mundo global faz sentido continuarmos mal dispostos e enterrados nos “há quem queira”?


Parece-me evidente que não.

Reflicto na letra do Palma e concluo: Ai, Portugal, Portugal / Enquanto ficares à espera / Ninguém te pode ajudar. E lá vai a caravana a passar, cheia de talentosos portugueses a desaparecer num mundo global, por sítios onde fazer a diferença faz sentido. Nós por cá, continuaremos à espera que o nevoeiro levante, pode ser que surja um rei desaparecido e nos salve.




13 de setembro de 2015

Ser vs. parecer

Desde tenra idade, recordo-me da preocupação com que os meus avós me incutiam a importância de uma pessoa ser íntegra, respeitadora e respeitada. Valores como a honra da palavra dada ou a conduta individual eram vistos como inalienáveis, mesmo que por vezes estes fossem contra um interesse momentâneo ou distinto da aprovação de um grupo em que estivéssemos inseridos. No fundo, a mensagem transmitida era a de privilegiarmos o seguimento dos princípios que damos como corretos, mesmo que por vezes estes comportamentos não fossem os esperados por outros. O importante é o ser...

Com o tempo, aprendi que é igualmente importante transmitirmos aquilo que somos (enquanto pessoa, empresa, comunidade, …), para podermos ser valorizados. Em termos empresariais, devemos até entregar aos nossos clientes ligeiramente mais do que aquilo que prometemos, para gerarmos satisfação superior à esperada. Ou seja, não basta ser, também é preciso parecer...

Hoje, a realidade sentida é a oposta: o mundo leva ao limite o conceito de que “a perceção é a realidade”. Tratando o tema com moderação, sabemos que em termos industriais/comerciais é relevante a qualidade percebida, que deve ser trabalhada; mas a qualidade intrínseca deve corresponder à mensagem que se passa, sob pena de estarmos a dar «tiros nos pés». Não podemos é criar ilusões que não têm a menor aderência à realidade, pois o tempo encarregar-se-á de ripostar com desilusão e prejuízo. Empresários ou profissionais que passam brilhantes imagens do que poderão fazer com facilidade, mas nunca entregam em conformidade (o mesmo nas relações pessoais); os sound bites, muito em voga na imprensa e redes sociais, deixaram de resumir a mensagem do emissor para transmitir aquilo que o editor acha que deve ser entendido. Ou seja, basta parecer...


Como…?!? Hummm… Esta não é seguramente uma forma inteligente de evolução, mas antes um «salve-se quem puder» que não resultará, a prazo, numa sociedade mais sã e vitoriosa.

Luís Luz

6 de setembro de 2015

Arquivo vivo | Bati no fundo

A mudança da realidade leva a várias mudanças de paradigmas e, mais do que contrariá-la ou ignorá-la, devemos analisá-la de forma crítica. A velocidade do dia a dia, a constante competição e as mensagens sobre a atualidade com que somos "inundados", por vezes não nos permitem ter o distanciamento necessário para nos questionarmos a nós próprios.

Analisar as situações sob outro prisma (colocando-nos por vezes na posição "do outro"), relativizando ou definindo prioridades acerca do que queremos construir para nós próprios e para os que nos rodeiam, permite-nos ultrapassar um certo sentimento de impotência ou desânimo.

«O que vi nos outros, no seu caminho para a desgraça, foi uma aprendizagem. Aprendi a respeitar a vida e o que ela nos proporciona. Só damos efectivamente valor a uma coisa quando a perdemos. Há o sentimento de que se a temos é como um direito. Não podemos pensar assim. Esse tempo já lá vai e se calhar nunca foi correcto pensar assim, quer para as questões materiais quer para as emocionais e relacionais.

Respeitando a vida na sua plenitude, isto é, nos dinheiros, nas pessoas e nos comportamentos, é fundamental que tenhamos duas orientações estratégicas:
- Valorizar o que temos. Tomar consciência do nível conseguido. Boa. Feel it!!!
- Ambicionar criar. Querer ir a mais. Querer colocar outra pedra sobre a pedra. Great!!!»

Vale a pena (re)ler o texto original: clique aqui.

Luís Luz