blogue editado

blogue editado por José Marques Mendes e Luís Luz

12 de novembro de 2016

A Democracia em Guerra

O povo votou e surpreendeu o mundo. Nos EUA sucedeu o que ninguém, em todo o mundo, expectava.
Aqui está a força do povo e da democracia.
Durante meses, semanas, dias e até nas últimas horas, muita gente dizia que a eleição de Trump não fazia sentido. O próprio CEO da Cisco Systems, no Web Summit em Lisboa, disse que apesar de ser Republicano iria votar Clinton.
Nas redes sociais, durante a noite do escrutínio, muita gente se assustava com a possibilidade de Trump vencer. Vi pessoas escrever que isso era um terror.
Mas sucedeu!


Aqui está a força do povo e da democracia.
Poder votar e com isso condicionar o rumo de uma sociedade, é uma força que a democracia tem. Independentemente do que uns pensam, sejam a elite, sejam poderosos ou políticos experimentados, outros podem fazer a diferença.
Hoje, mais do que nunca, ratificou-se que as minorias tornam-se maiorias enquanto as maiorias tradicionais desvanecem.

Agora escrevem-se muitos artigos a explicar o sucedido e a juntar ao “caso Trump” outros eventos como o Brexit. Procuram-se explicações, buscando outros factos.
Fazem bem. Generalize-se porque o que está a suceder não está circunscrito geograficamente.
Não há dúvida que o povo se cansou do status quo da política e da governação política.
O tradicional, o mais do mesmo, já era. O que era habitual já não satisfaz.

É por isso que a “geringonça” faz o seu caminho e toda a gente fica admirada com a “quilometragem”. Em Portugal, já está a consumar-se a viragem para novos paradigmas de liderança.
Na Europa, com o Brexit, outra cartada de inconformismo. Neste continente também a democracia mostra a sua força. Este continente está fraco, a política não serve as expectativas e os resultados eleitorais tendem a mostrar a revolta. Já começou a mudança e a democracia está em guerra.

Estados Unidos da América, grande país. O PIB a crescer a bom ritmo há mais de uma década e o desemprego a descer consistentemente, mostrando que sonhar é possível e que o pleno emprego é uma realidade.
Apesar desta dinâmica, o povo disse - BASTA. Impressionante gesto.
Neste país, maior referência económica mundial, em melhoria permanente, o povo jogou uma cartada brutal. A carta da irreverência.
É impressionante como não se acomodam e mostram que mais do mesmo não chega, apesar da dinâmica que registam.
Isto é ambição, não é loucura.

Tivemos duas guerras mundiais e temos focos de guerra em vários pontos do globo. Toco neste ponto porque ainda ninguém se atreveu a dizer que estamos em guerra e apenas se especula que a terceira grande guerra mundial pode vir.
Eu acho que já estamos em guerra.
É uma guerra no interior das sociedades, dos povos e contra os paradigmas atuais, em que a arma é o voto e a saturação a motivação.
Acabaram os brandos costumes do povo, acabaram as oportunidades aos políticos convencionais. Chegou a mudança nas sociedades e nos povos.

O inconformismo dos povos está a gerar mudanças nos paradigmas das lideranças nas sociedades. São mudanças em países que vão provocar instabilidades mundiais e todo o resto serão evidências de guerra.
O futuro já começou a mudar.

O futuro não será o que pensávamos.
O futuro não é a era digital. O futuro não é o mercado de capitais. O futuro não é a globalização.
O futuro é uma guerra de sociedades em que a democracia é o campo de batalha. Uma guerra que irá destruir para que se volte a erigir algo de novo para as próximas décadas.

O futuro não será melhorar ou otimizar o existente. Isso não é suficiente.
O futuro é reconstruir.
É isso que está em curso – um processo de destruição dos equilíbrios sociais e políticos com as naturais consequências económicas e financeiras.

O que sucedeu nos EUA não é um sinal de guerra. Já é a guerra.

Já começou e com isso um novo futuro.

José Marques Mendes

Sem comentários: