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blogue editado por José Marques Mendes e Luís Luz

1 de abril de 2012

Líderes sem berço

Há alguns anos atrás, ainda eu no início de carreira, sou promovido a Assessor do Diretor Industrial. Na altura, 1998, era um passo muito sério na vida da empresa na minha. Lembro-me do preocupado que estava. Assustado não era bem o caso porque nunca chego a tanto mas, perguntava-me se “eles” tinham a certeza do que estavam a fazer. Promover-me a cargo tão sério.

Nesse momento vivia um misto de entusiasmo e angústia. Queremos mas tememos. Nunca sabemos se estamos a ser promovidos ao nosso nível de incompetência.

É nessa turbulência de emoções que se cruza comigo no corredor um diretor da “velha guarda”, talvez o mais antigo do grupo, diretor de compras, e me felicita pela promoção ao novo cargo.
Eu, ainda inseguro sobre que níveis de entusiasmo apresentar, repondo algo do género:
-vamos ver como me “safo”, Dr. Augusto.
É nesse momento que este homem fez a diferença…na minha vida.
Ele respondeu num tom vivo e convicto que ainda hoje registo como se tivesse sido ontem:
-José Miguel, não tenho a menor dúvida que isso para si é fácil.

Falou-me como se fosse um desafio e já ganho.
Daqui tirei alguns ensinamentos que hoje estão já enraizados em mim:
1. a vida é cheia de desafios e competividade a todo o momento.
2. é fundamental a autoconfiança à partida para cada dia da nossa vida.

Inspirei-me em desenvolver este tema no blogue depois de uma pessoa me contar a sua recente promoção. A determinada altura dizia-me que o presidente da empresa passou por ele e lhe disse:
-parabéns pela promoção.
Ele sorriu e agradeceu mas logo o presidente rematou:
-agora o que é preciso é resultados.

Pois, este não é o Dr. Augusto. É um imbecil qualquer.
Claramente aquela promoção foi um presente envenenado pois o presidente vai estar a olhar para os números e não para o desenvolvimento da pessoa e da função. São estes abutres dos recursos humanos que é preciso extinguir. Esta gente premeia com segundas e materiais intenções, apenas.

É claro que o sucesso das pessoas e das funções é medido com resultados mas, pelo caminho há muito a fazer e, há que começar bem. Aliás, uma organização é feita pelo sucesso e resultado de vários. Liderar o conjunto é que é o segredo.
Esta pessoa, ao contar-me, nem se apercebeu que aquilo a marcou porque, no meio do entusiasmo conta-me esta passagem de 15 segundos. Pois claro, ficou marcado no seu subconsciente esta “pressão do presidente”.

Este tipo de líderes, austeros e senhores do poder, são um perigo porque perigam as suas organizações. Minam o equilibro das pessoas.
Creio mesmo que são líderes sem berço ou com uma “infância profissional” dolorosa. Parece que estão a dizer a toda a hora:
-se eu passei mal, também tereis de passar.

Sei lá. Se calhar não é isso e é mesmo mau feitio. Mau caráter.

Quando a aposta é nas competências das pessoas e a promoção é honesta, então basta um simples:
- Parabéns pela promoção.
Se quiser ir mais longe um pouco, diga:
- Se precisar de alguma coisa, não hesite em me procurar.

É tão fácil não se ser inconveniente.
José Marques Mendes

1 comentário:

CMM disse...

Gostei tanto! Porque é mesmo verdade! Às vezes os líderes deixam escapar frases de uma forma tão inconsciente que nem têm noção do quanto mostram de si. Ainda esta semana ouvi alguém dizer "...A quem é que eu vou mandar fazer isto?" é completamente diferente de "a quem é que eu vou pedir isto". Entre o mandar e o pedir, vai uma longa caminhada...