O povo votou e surpreendeu o mundo. Nos EUA sucedeu o que
ninguém, em todo o mundo, expectava.
Aqui está a força do povo e da democracia.
Durante meses, semanas, dias e até nas últimas horas, muita
gente dizia que a eleição de Trump não fazia sentido. O próprio CEO da Cisco
Systems, no Web Summit em Lisboa, disse que apesar de ser Republicano iria votar
Clinton.
Nas redes sociais, durante a noite do escrutínio, muita
gente se assustava com a possibilidade de Trump vencer. Vi pessoas
escrever que isso era um terror.
Mas sucedeu!
Aqui está a força do povo e da democracia.
Poder votar e com isso condicionar o rumo de uma sociedade,
é uma força que a democracia tem. Independentemente do que uns pensam,
sejam a elite, sejam poderosos ou políticos experimentados, outros
podem fazer a diferença.
Hoje, mais do que nunca, ratificou-se que as minorias
tornam-se maiorias enquanto
as maiorias tradicionais desvanecem.
Agora escrevem-se muitos artigos a explicar o sucedido e a
juntar ao “caso Trump” outros eventos como o Brexit. Procuram-se explicações,
buscando outros factos.
Fazem
bem. Generalize-se porque o que está a suceder não está circunscrito
geograficamente.
Não há dúvida que o povo se cansou do status quo da política e da governação política.
O tradicional, o mais do mesmo, já era. O que era habitual
já não satisfaz.
É por isso que a “geringonça” faz o seu caminho e toda a
gente fica admirada com a “quilometragem”. Em Portugal, já está a consumar-se a
viragem para novos paradigmas de liderança.
Na Europa, com o Brexit, outra cartada de inconformismo.
Neste continente também a democracia mostra a sua força. Este continente está
fraco, a política não serve as expectativas e os resultados eleitorais tendem a
mostrar a revolta. Já começou a mudança e a democracia está em guerra.
Estados Unidos da América, grande país. O PIB a crescer a
bom ritmo há
mais de uma década e o desemprego a descer consistentemente, mostrando
que sonhar é possível e que o pleno emprego é uma realidade.
Apesar desta dinâmica, o povo disse - BASTA.
Impressionante
gesto.
Neste país, maior referência económica mundial, em melhoria
permanente, o povo jogou
uma cartada brutal. A carta da irreverência.
É impressionante como não se acomodam e mostram que mais do
mesmo não chega,
apesar da dinâmica
que registam.
Isto
é ambição, não é loucura.
Tivemos duas guerras mundiais e temos focos de guerra em
vários pontos do globo. Toco
neste ponto porque ainda ninguém se atreveu a dizer que estamos em
guerra e apenas se especula que a terceira grande guerra mundial pode vir.
Eu acho que já estamos em guerra.
É uma guerra no interior das sociedades, dos povos e contra
os paradigmas atuais, em que a arma é o voto e a saturação a motivação.
Acabaram os brandos costumes do povo, acabaram as
oportunidades aos políticos convencionais. Chegou a mudança nas sociedades e
nos povos.
O inconformismo dos povos está a gerar mudanças nos
paradigmas das lideranças nas sociedades. São mudanças em países que vão
provocar instabilidades mundiais e todo o resto serão evidências de guerra.
O futuro já começou a mudar.
O futuro não será o que pensávamos.
O futuro não é a era digital. O futuro não é o mercado de
capitais. O futuro não é a globalização.
O futuro é uma guerra de sociedades em que a democracia é o
campo de batalha. Uma guerra que irá destruir para que se volte a erigir algo
de novo para as próximas décadas.
O futuro não será melhorar ou otimizar o existente. Isso não
é suficiente.
O futuro é reconstruir.
É isso que está em curso – um processo de destruição dos
equilíbrios sociais e políticos com as naturais consequências económicas e
financeiras.
O que sucedeu nos EUA não é um sinal de guerra.
Já é
a guerra.
Já começou e com isso um novo futuro.
José Marques Mendes