As organizações - as
pessoas que as constituem - são muito perdularias e com o tempo aceitam tudo.
Em minha convicta opinião, o “deixa andar é cavar a própria sepultura”.
A hierarquia da
figura vai ajudar-nos a perceber a problemática da liderança e algumas
aberrações do líder de topo.
Os 4 níveis
(vermelho, verde, rosa e azul) representam:
Azul - o líder da
organização. Só há um
Rosa - os líderes de
topo, normalmente diretores
Verde - os líderes
intermédios, normalmente gestores, gerentes, chefias de unidades
Vermelho - a base
operacional e onde se concentram 80% das pessoas
NÍVEL AZUL
Comecemos pela
responsabilidade do número 1. Há que definir a sua responsabilidade porque não
é por estar no topo que vai dizer como tudo se faz. Nem pensar nisso e por duas
razões muito simples. Ele não só não sabe tudo como tem de envolver os outros.
Afinal há mais líderes na organização.
Este líder máximo,
seja CEO, diretor geral ou presidente executivo deve assumir as
responsabilidade diretas de:
>Ter uma visão e
um rumo para a empresa. Transmitir isso claramente à organização. Assim, cada
um já sabe o que o espera se decide ficar na organização.
>Definir a
autonomia dos diretores (nível rosa). Assim cada um já sabe se vai decidir
alguma coisa ou simplesmente ser o “pau mandado” do chefe.
>Deve estar
preparado para apoiar as adversidades do rumo. As pessoas falham e muitas vezes
é porque não sabem mais. Digo muitas vezes porque não é sempre. Outras vezes é
por descuido, desleixo e mau feitio. O líder deve ser condescendente quanto
baste e não criar estados de impunidade à incompetência. Não serve? Então fora!
>Cultivar “o ser
visionário” e tentar antecipar, com objetividade, o medio prazo. Tem de ser o
primeiro a perceber “o mau rumo das coisas”. Afinal é o comandante e se não “vê
um boi à frente dos olhos” é porque é o próprio boi.
NÍVEL ROSA
Os diretores com base
na autonomia delegada e na visão traçada, preparam os seus planos operacionais,
envolvem as suas equipas e exercem no seu próprio estilo. As diversas direções
têm que ter vida própria dentro da vida da organização. É como no corpo humano.
Tudo funciona para o bem do todo mas cada órgão tem funções definidas e com
muita autonomia.
NÍVEL VERDE
Os líderes
intermédios são os mais sacrificados por estarem "ensanduichados”. Por um
lado têm de lidar com as bases que reivindicam melhores condições e são
normalmente resistentes a novos processos mas, por outro lado, têm o topo a
traçar diretrizes e com opiniões vincadas.
São líderes com muito
pouco espaço de intervenção. Têm alguma dificuldade em impor um pensamento e
uma vontade. Estes líderes, gestores e chefias operacionais, têm de ser
verdadeiros guerreiros para não se diluírem na organização.
NÍVEL VERMELHO
As bases, para além
de terem de fazer tudo bem na sua função deveriam assumir uma grande
responsabilidade - não fazer as coisas só porque lhes pedem. Só porque querem
manter o emprego. Só porque têm medo ao desemprego. Tudo isso é legítimo mas,
tem de haver uma irreverência natural, isto é, a irreverência que alimenta a
motivação e os faz ir trabalhar todos os dias como se fosse o primeiro.
Após esta breve
explanação dos níveis na organização, devo dizer que me preocupo imenso com as
aberrações do líder (number one) porque minam o futuro da empresa, minando a
hierarquia.
Há coisas que, como
se costuma dizer, não lembram ao diabo.
Vejamos as aberrações
chave:
>O líder concentra
todas as decisões. Se alguém decide algo e o líder não acha bem, sabe que pode
ficar desautorizado ou até, com líderes arrogantes, acaba despedido.
Aberração: Líder com
problemas de autoconfiança e, se não tem confiança como poderá delegar?
>O líder vai ao
terreno com frequência. Isto por si só não é mau mas, vai com segundas
intenções. Vê coisas e decide diretamente. Dá indicações às bases e quase
sempre são críticas e ameaças. Amedronta. Descredibilizada a hierarquia.
Aberração: Problemas
de autoestima. Não gosta de si logo, como pode gostar dos outros?
>Os diretores, que
devem ser os primeiros líderes, as referências da organização, os embaixadores
da visão, são apenas uns “paus mandados”. Vão ao chefe para despacho porque não
despacham nada. Trazem do chefe as ordens para despedir porque o chefe quer
cortar custos.
Aberração: se os
diretores não são líderes com poder como podem distribuir poder pelas equipas?
Enfim, patrões!
Apelo à vossa
sensibilidade para repararem se na vossa organização "ninguém leva ideias ao
topo porque o topo tem as ideias todas".
Se assim for, estão
perante um estilo patrão e isso é azar.
Podem ainda tentar
reparar se "os diretores implementam as ideias do topo, mesmo que não
concordem, porque querem o salário no fim do mês".
Se assim for, é
porque têm medo ao patrão. Azar para quem for liderado por eles.
Estes líderes de topo
ao estilo patrões, são os verdadeiros responsáveis por não terem uma
organização a decidir e a intervir em uníssono e a várias velocidades porque
não acreditam que existe mais gente capaz.
Se calhar o patrão
não é um gestor e muito menos um líder. É simplesmente patrão.
José Marques Mendes