Há dias estava numa conferência literária com autores. No final das exposições dos autores surgiram as questões que normalmente surgem da audiência, dos espectadores. Surgiu uma pergunta que foi colocada à mesa. Respondia quem queria.
A pergunta era:
- sobre se o autor quando escreve o livro (o romance era o caso), pensava no leitor?
Surgiu logo um autor a referir com muita determinação, e até a pedir desculpa por ser tão frontal, mas que não pensa no leitor quando escreve. Esforça-se muito, dá muito de si, muito da sua sanidade mental mas que não está a pensar no leitor (enquanto destinatário da obra).
Logo assisti outro autor, no mesmo sentido mas argumentando de forma diferente, que também escreve a não pensar no leitor.
Assisti e confesso que me caiu mal.
Até esse momento estava a gostar bastante das exposições mas aquele egoísmo, aquele narcisismo, aquela centralização em si mesmo, mexeu comigo. Destabilizou-me. Não pensei em intervir porque não sou de intervir nestas ocasiões.
Houve no entanto alguém, da assistência que, de uma forma brilhante, serena e assertiva, evidenciou aos autores que eles antes de serem autores, foram e provavelmente ainda são leitores. De outras obras que não as suas mas, são certamente leitores.
Leitores que aprendem, que crescem pela leitura do que os outros escrevem.
Assim, mesmo que não fosse por mais nada, não esquecer que outros, ao ler o que escrevemos, se estão a desenvolver e a formar. Mesmo discordando do que lêem, ganham convicção nesse pensamento.
Claro que logo a seguir, após esta exposição brilhante e aplaudida pelo silêncio, humildemente reconheceram que de facto…não é bem assim. Até se motivam com o leitor. Claro está, se os livros publicados não tiverem compradores, provavelmente eles nem seriam autores – disse um.
Um gesto ou um comportamento humilde é algo que deve estar sempre presente no líder, mesmo que ele seja apenas, um líder de opinião.
José Marques Mendes
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