Acredito que a ética é um dos fatores que contribui decisivamente para qualificar um líder enquanto tal. Entenda-se por líder aquele que cria seguidores… e não os poderosos que “conquistam” submissos (por via de compensações ou de punições). Extrapolando, poderíamos mencionar Mahatma Gandhi, Nelson Mandela ou até Jesus Cristo mas, para a nossa realidade mais próxima, escusamos de ir tão longe.
É fácil olharmos à nossa volta e percebermos quem de facto lidera genuinamente, por oposição a «quem manda». E, observando de perto, percebemos que estes líderes mantêm uma conduta de atuação relativamente constante, que reconhecemos como fazendo parte integrante e natural dessa pessoa. Podemos até tornarmo-nos seguidores mesmo não concordando com determinados aspetos, mas um reconhecimento é consensual: o seu caráter.
Importa recordar que - apesar de tudo - a ética é pessoal/individual (ou, como diz o outro, «cada um tem a sua»!), ao contrário da moral que é coletiva. Contudo, nós seguimos aquele que tem personalidade, o que tem carisma… e não o voluntarioso e consensual. Claro que nos temos que identificar com os valores principais do líder, pois são estes valores que vão justificar as suas ações (intencionais ou por omissão), ações essas que os seguidores irão defender.
Outro fator a ter em conta é a sustentabilidade da condição de líder, isto é, se não nos mantivermos consistentes nos princípios básicos pelos quais nos regemos (pela nossa própria ética), perdemos credibilidade e fatalmente perderemos também a nossa qualidade de líder (os tais que criam seguidores). Isto não significa de todo que a nossa ética seja única e imutável no tempo e independentemente das circunstâncias que nos rodeiam. Se assim fosse estaríamos a ser ingénuos e com um prazo de validade tendencialmente muito curto enquanto líderes. Mas, acima de tudo, estaríamos a desperdiçar um valor inestimável que é a aprendizagem ao longo da vida… mas deixaremos este tema para uma futura oportunidade.
Em suma, quando falamos de ética na liderança estamos a referirmo-nos à reputação do líder, à sua integridade, a qual resultará no modo como este será visto junto daqueles a quem exerce a sua influência. Há um par de anos perguntaram a Paulo Azevedo (Sonae) «Como se consegue a cadeira que ocupa?», tendo ele respondido: «Foi cara e paguei-a eu, que tinha vergonha de apresentar a conta à Sonae»!
Luís Luz