Constituir-se um líder envolve um processo complexo e do qual não temos uma “receita” de como alcançar tal estatuto. Há estudos que apontam para algumas das competências que devem estar presentes no perfil de um líder, das quais gostaria de destacar uma como ponto central:
>ter um interesse genuíno por pessoas. Se estamos no campo das relações, as pessoas são o instrumento da liderança; são elas que constituem o desafio de quem pretende liderar e é preciso gostar desse envolvimento com gente para exercitar a liderança.
A partir desse ponto, há vários desdobramentos sobre as características de um líder e que podemos vir a detalhar num outro momento. Por agora, sugiro um exercício de memória de voltarmos à nossa história de vida em anos passados.
Ao lembrar de pessoas que nos serviram de referência e que, em alguma medida, nos influenciaram no que somos e que ainda hoje nos inspiram – sim, porque o líder é uma pessoa inspiradora - o que mais nos chama a atenção nessas pessoas?
Particularmente, acredito que um primeiro ponto revelador de um líder, está na habilidade em desenvolver relações verdadeiras, ou seja, um líder seria uma espécie de “promotor de crescimento”. Entendo essa expressão que acaba de me ocorrer como relativo àquele que possibilita o crescimento do outro, não por impor verdades - muito pelo contrário, mas por assumir um compromisso com o outro de forma intensa e edificante. De tal modo, diria que cabe a um líder, entre outras tarefas, a de abalar ou, no mínimo, relativizar as certezas de seu aprendiz e assim, ampliar os seus horizontes e lhe permitir o acesso às novas informações.
Seria essa a missão de um líder? Seria essa a principal diferença entre um líder e um chefe?
Um aspecto que considero muito importante na diferenciação entre um líder e um chefe, reside no facto de que os bons líderes passam a ser destituídos após algum tempo, isto é, o seu trabalho é tão eficiente e marcante, que permite ao outro seguir com “suas próprias pernas”, prosseguir o longo caminho do aprendizado e repassar a outros indivíduos os ensinamentos daquilo que experimentou.
Atenção, ser destituído não significa ser esquecido. Numa via contrária, parece situar-se a função do chefe, cujo saber está centrado em si próprio, e que mantém com o liderado uma relação circular, que está sempre a voltar ao mesmo ponto, o que viria a caracterizar uma relação de dependência. Digamos, de modo sucinto, que um líder está a gerir pessoas, ao passo que um chefe está a gerir serviços e produtos.
Ora, sabemos que nem todo o chefe, por mais que seja qualificado, se torna necessariamente, num líder; assim como, há líderes em potencial que não ocupam função de chefia nas organizações em que se encontram. O que nos mostra que liderança e chefia não formam necessariamente uma aliança.
Com vistas a aquisição de novas lideranças, as empresas investem em programas de treino destinados ao seu quadro de colaboradores. Contudo, não há qualquer garantia de que os cursos e programas de formação tenham como produto final novos líderes. Há quem possa dar seguimento ao aprendizado e vir a desabrochar como um líder. Por outro lado, sabemos de pessoas, ainda que submetidas ao mesmo processo, que não chegam a alcançar o estatuto de um líder, o que não as impede de exercer suas actividades de modo eficiente e de vir a reconhecerem, por si próprias, que não se sentem devidamente habilitadas para liderar.
Parece não ser um despropósito cogitar a ideia de que a liderança, tal como outros talentos, pode vir a ser um dom. Porém, estamos a referir sobre um dom construído ao longo da vida. Um dom aprimorado à custa de trabalho pessoal e aprendizado contínuo pode vir a ser executado com maestria, tal como outras habilidades humanas revelam.
Helena Faria