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blogue editado por José Marques Mendes e Luís Luz

29 de janeiro de 2017

Tenho pena

Tenho pena… e sei porquê.
Tenho pena de muitas coisas.

Tenho pena dos velhinhos que não se sentem úteis na sociedade.
Tenho pena dos mais novos que não sabem para onde levar a vida.
Tenho pena dos deficientes pela sua dependência.
Tenho pena dos adolescentes que comprometem a sua sanidade com drogas.
Tenho pena das prostitutas pela opção.
Tenho pena dos que trabalham sem prazer.
Tenho pena dos que trabalham só por dinheiro.
Tenho pena dos que não têm trabalho.
Tenho pena dos que não querem trabalho.
Tenho pena dos que têm muito trabalho.

Tenho pena de muita gente.
Tenho pena do Durão Barroso pela decisão que tomou.
Tenho pena de Cavaco Silva pelas muitas decisões que não tomou.
Tenho pena dos deputados que se sentam na AR porque isso lhes dá prestígio.
Tenho pena dos políticos que não chegam a fazer obra.
Tenho pena dos que muito fazem e não são reconhecidos.

Tenho pena de muita gente.
Tenho pena dos pobres porque não têm nada.
Tenho pena dos ricos porque acham que não têm o suficiente.
Tenho pena das crianças que ganham brinquedos e choram por mais.
Tenho pena das crianças que não têm nada por que chorar.

Tenho pena de muita gente.
Tenho pena de mim quando não me sinto pleno.
Tenho pena de mim quando quero ir e não posso.
Tenho pena de mim quando penso e não ajo.
Tenho pena de mim quando me esvazio.
Tenho pena de mim quando anseio.
Até de mim tenho pena.

Tenho pena de muita gente e acho que isso não tem mal nenhum.
Acho que ter pena faz bem.
Sentir pena de algo é porque achamos que algo não está bem. É isso que nos mantém vivos emocionalmente. Sentir pena da mesma forma que sentimos satisfação.
Sentir pena porque estamos inconformados com algo e esse inconformismo deve levar-nos a agir. Sentimos pena, agimos e logo sentimos satisfação.
Não é assim tão simples mas é bom acreditar que pode ser assim simples.

Eu gosto de sentir pena porque isso faz-me pensar se posso ajudar a que algo mude.
Tenho pena das organizações empresariais onde as pessoas estão stressadas, deprimidas, envergonhadas, com sentimento de impotência e sob incerteza.
Tenho pena das organizações empresariais que não mudam porque as pessoas que a constituem não mudam.

Tenho muita pena das pessoas que são sempre iguais a si mesmas, dia após dia, e que a única coisa que conta é o seu umbigo – “sou assim e já não mudo”.
Tenho pena que não mudem, sendo pessoas.
Tenho pena dessa gente.


José Miguel

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